Grande Entrevista: João Heleno, CEO e Diretor do Departamento de HST da Percentil, Lda., conversa com a e-coordina
João Heleno é o Sócio Fundador da empresa Percentil – Consultoria, Projectos e Formação em Ambiente e Segurança no Trabalho, Lda, na qual desenvolve as funções de Direção do Departamento de HST e Responsável Técnico-Pedagógico pela área de Formação e Direção Comercial.
Pergunta – O ano de 2020 trouxe desafios significativos aos profissionais da segurança e saúde no trabalho. Como avalia a realidade vivida na Percentil durante este tempo e como é que a empresa se adaptou a todo este “novo normal”?
Resposta – Eu diria que o ano 2020 trouxe desafios aos profissionais de quase todas as áreas. Nós na Percentil, desenvolvendo a sua atividade na área de Segurança e Saúde no Trabalho, após um primeiro impacto e percebendo o que se estava a passar no mundo, acabámos por nos adaptar, como qualquer outra área de negócio ou atividade profissional.
Não nos podemos esquecer que a Percentil é uma empresa de consultoria e projetos na área de Segurança e Saúde no Trabalho. A pandemia está extremamente ligada à saúde. Não é só uma questão pública e universal, mas também uma questão que tem impactos muito grandes na área do trabalho.
Portanto, depois de uma primeira fase de avaliação, houve uma segunda de tentarmos perceber de que forma é que poderíamos ser úteis para os nossos clientes e como poderíamos encarar a pandemia, considerando-a mais um fator externo, que tem impacto na saúde e na segurança no trabalho. No final de contas, criar ferramentas e formas de sermos parceiros e de lidarmos com o problema de uma forma positiva e que valorizasse os nossos clientes.
O tipo de ferramentas, como a e-coordina, é claramente um passo enfrente no lidar com uma componente burocrática do trabalho que é extremamente relevante a todos os níveis.
-João Heleno-
P – Na sua opinião, que importância é que a Segurança e Saúde no Trabalho tem dentro das organizações e das empresas, especificamente na área da construção?
R – Só há uma resposta possível: tem uma importância fulcral! Não nos podemos esquecer que estamos a falar de trabalho e o trabalho ainda é desenvolvido por pessoas.
Obviamente estamos num mundo, cada vez mais automatizado e informatizado, mas o homem e a mulher, na perspetiva de executantes do trabalho são a peça central do trabalho. Portanto, a Segurança e Saúde no Trabalho tem um papel essencial porque vai ter e tem um impacto direto e indireto.
Do ponto de vista direto, influencia na performance do trabalho, das organizações, das empresas e dos próprios trabalhadores. As pessoas precisam de trabalhar para executar o seu projeto de vida. Consequentemente, sem segurança, esse projeto não é exequível.
Na área de construção não é que seja mais importante. Tem um impacto diferente porque a área de construção é de facto uma área onde existem riscos elevados, os chamados riscos especiais.
Esses riscos estão muito presentes porque os trabalhos são desenvolvidos por várias empresas em simultâneo, com culturas diferentes e onde ainda é padrão existirem pessoas com formação muito reduzidas e que trabalham num ambiente sujeito às alterações sazonais do clima. Logo, reúne um conjunto de características que conferem uma perigosidade acima da média. Não é por acaso que as estatísticas, ao nível de sinistralidade, estão altamente concentradas no mundo da construção.
Portanto, se a importância da Segurança e Saúde no Trabalho, no mundo laboral, é central, na área da construção, é ainda um pouco mais.
P – A gestão e troca documental entre empresas é um obstáculo que requer demasiadas burocracias. De que forma é que acha que ferramentas como a e-coordina facilitam os processos de trabalho dentro das empresas?
R – As ferramentas, como as da e-coordina, são claramente um passo em frente para lidar com uma componente burocrática do trabalho que é extremamente relevante a todos os níveis. O trabalho burocrático é uma tarefa muito pesada e que faz muitas vezes com que as empresas negligenciem pelo tempo que despendem a lidar com esta pasta.
Tudo o que sejam formas de trabalhar, como no caso do serviço da e-coordina, que permitam passar de um mundo em que se enviam e-mails ou se faz um telefonema para um mundo em que temos de submeter documentação numa determinada plataforma, faz com que os processos sejam mais fáceis e transparentes. Ultrapassada uma primeira fase de resistência à mudança, todos temos a ganhar.
P – Na sua opinião, as empresas portuguesas são recetivas a estas plataformas tecnológicas? De que forma é que conseguem perceber as vantagens e as mais-valias que estas plataformas trazem para as empresas?
R – Sim, claramente que sim. Não vejo, nem na área da gestão da segurança no trabalho nem noutra, que as empresas portuguesas tenham menor capacidade de lidar com novas formas de se pensar no trabalho. Neste caso concreto, também não identifico, no nosso tecido empresarial, uma dificuldade para além da dificuldade do lidar com a mudança referida anteriormente e de saber utilizar novas soluções para problemas antigos.
Acho que passa tudo por uma boa comunicação, por uma boa explicação das vantagens que estas novas formas e este tipo de plataformas têm. Há sempre, numa fase inicial deste tipo de processos, alguma resistência de não se perceber bem o porquê de nos estarem a fazer determinadas solicitações.
Mas passa muito por essa boa comunicação e explicação e por nos focarmos essencialmente nas vantagens, que são claramente muito superiores a esta primeira resistência à mudança.